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Foto por: Noilton Pereira |
A Geologia é uma das ciências mais espetaculares por promover viagens e aproximação entre pessoas de realidades muito distintas. Tendo crescido em Belo Horizonte, não imaginava os cantos do Brasil que eu poderia conhecer por meio de trabalhos de campo e as pessoas que residem em cada um deles.
E não somente. Ao ser forçado à abstração, tendo de trabalhar com escalas que vão do microscópico ao continental, o geólogo desenvolve uma habilidade notável de colocar as coisas em perspectiva. Torna-se um pouco mais fácil esticar o pescoço e fazer sua vista alcançar para além de sua rua, seu bairro, sua cidade, seu estado.
No Maranhão, pude conhecer famílias que vivem isoladas entre dunas de areia de dezenas de metros de altura. Enquanto as dunas avançam e mudam sua configuração de acordo com o regime de ventos, pequenos oásis são formados a partir de rios que vencem as areias e permitem que aquelas famílias sobrevivam. Crianças que ali vivem cuidam da casa, buscam água no poço e preparam o almoço como qualquer adulto.
No extremo norte da Bahia, passei alguns dias em uma comunidade de origem quilombola, cujos avanços registrados nos últimos anos transformaram a vida dos que ali residem. A televisão pública, instalada na praça, chegou para eles no século XXI. As recentes melhoras de pavimentação, saneamento básico e distribuição de energia elétrica fizeram com que sentissem que pela primeira vez não estavam abandonados por Deus. Curiosamente, a comunidade abriga a maior caverna do Brasil e segunda maior do hemisfério sul.
No interior de Pernambuco, conheci Seu Agripino, taxista e pequeno agricultor. Entusiasmado com meu interesse sobre sua cidade e as mudanças recentes pelas quais ela vem passando, ele me levou para fazer uma espécie de tour gratuito, montando um paralelo entre sua memória e aquilo que víamos pela janela do carro. Seus olhos marejados não escondiam o orgulho de poder crescer a primeira geração de sua família que não passaria fome enfim.
E assim é o estudo das rochas. O fato de o instrumento de trabalho principal da ciência não envolver formas vivas não significa muito, já que no caminho para se chegar até as rochas existem muitas pessoas. Se voltar para suas histórias e realidades é o mínimo que se pode fazer enquanto cientista das ciências da Terra.
Basta abrir os olhos e atentar os ouvidos.
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